domingo, 5 de setembro de 2010

Espontaneamente

Image and video hosting by TinyPic

"Superiores pelo amor, mais dispostas a subordinar a inteligência e a actividade ao sentimento, as mulheres constituem espontaneamente seres intermediários entre a Humanidade e os homens".

Auguste Comte

1 comentário:

  1. Havia um espaço da casa masculino, o escritório, a biblioteca. Do salão, espaço comum, as senhoras ausentavam-se conhecedoras da hora certa de o abandonarem. Já a salinha, a cozinha eram os lugares de domínio feminino. A biblioteca guardava muitos mundos, aventuras, mas a cozinha é um universo sensorial, oculta a magia dos condimentos e o apelo dos odores.
    Também os homens se apaixonam por relógios e canetas, e as mulheres amam as pérolas. Enquanto os relógios marcam o compasso do tempo e as canetas, sim, acamem à mão do seu dono, as pérolas vão mais além, transportam uma mensagem, criam uma intimidade singular, pois não apenas absorvem o odor da pele como ajustam a sua tonalidade à temperatura do corpo :) Há, teimemos ou não ser sermos iguais, uma diferença de género e sexo e a apetência pelos próprios objectos dizem-na.
    Do mesmo modo que, dotadas da maternidade, as mulheres foram feitas para a paz e não para a guerra, também foram talhadas para mostrarem a sensibilidade, os afectos. Uma aprendizagem ancestral transmitida de avós a filhas e netas, profundamente enraizada, enquanto aos homens ensinaram a serem contidos. Um homem não chora, era a máxima transmitida desde que crianças, dando aos meninos o modelo do pater sério e formal. Se não chora, ainda que se emocione, guarda, resguardando-se.
    O desprendimento destes constrangimentos é moroso, implica ultrapassar todas as normas de conduta aprendidas. Talvez por isso, os homens exprimam a emoção depois de demorada reflexão, e é a medo que pensam o amor, receosos de grilhões, enquanto as mulheres são mais espontâneas na mostra dos seus afectos, e não vêem estes como cativeiro, mas dádiva, entrega libertadora. O amor é um manual de intenções :), dedicação, devoção. Diz Rui Cinatti “Quando te cansares da vida, vai ao cais”, o cais é conforto, repouso e inscreve-se nas carícias de femininas mãos.
    A justificação está no social, muitas mulheres abdicaram de uma carreira em nome do amor ou da do seu par [e evoco Alma Mahler que da sua prescindiu por vários amores], poucos homens tal optaram ou ousaram. A explicação está também na genética, cromossomática claro, homens e mulheres são diferentes também no corpo.
    Porém, nenhuma civilização ou geração prescindiu da beleza, nenhuma prescindiu também do amor.
    Emoção, Razão… diz Giselle Fleury, acerca de De Profundis de Wilde, que Razão é ver sentido no que se faz, e só o amor pode fazer coisas absurdas fazerem sentido. Talvez haja que insistir neste raciocínio repetindo-o à metade masculina da Humanidade :)

    ResponderEliminar